quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Terça...

Último dia de actividades. O céu está aberto e o sol vai crescendo luminoso sobre os telhados nevados da cidade. Sibiu é, definitivamente, uma cidade bonita, digna de figurar em qualquer roteiro turístico que inclua esta região da Europa.


Começámos a manhã com a recepção na Prefeitura da Cidade. Como a foto documenta há na delegação portuguesa quem não envergonhe no desempenho do cargo mas…




Havia outro. O autêntico Representante do Governo Nacional no Departamento de Sibiu. Um momento importante para as delegações internacionais que aproveitaram para agradecer a hospitalidade das gentes da cidade e o empenho dos seus representantes.

Um percurso pedestre pelas ruas mais características da muralhada Cidade Velha, envolvida num robusto sistema de defesa, seguiu-se à cerimónia. Sibiu e todas as cidades da região foram palco de diversas invasões e convulsões ao longo da sua vasta história. A localização geográfica e a riqueza dos seus solos, tornou-a sempre alvo do apetite dos invasores nos momentos de maiores dificuldades. Eis a razão das muralhas. Os participantes aproveitaram para reforçar os laços que os uniram nestes dias deixando recordações em fotos e emoções nos corações.


Sobre a Liar’s Bridge fizeram-se juras, desta vez verdadeiras, de eterna amizade, trocaram-se contactos que se pretendem usar, disseram-se pequenas e nervosas piadas a revelar já o fim da experiência inolvidável vivida nas ruas e praças desta simpática cidade.


Tiraram-se as fotos de grupo,...


…e improvisaram-se passagens de modelo, revelando a riqueza e a história do parque automóvel da Roménia e a jovialidade de algumas das participantes.


Terminado o percurso oficial partiu-se para a região dos Lagos. Não dos "Grandes Lagos" mas dos muitos lagos salgados, situados a uma vintena de quilómetros da cidade de Sibiu. Encontrámos então a Roménia profunda. Alguns veículos apenas alimentados na nossa memória pela fantasia, circulam alegremente na avenida principal da pequena cidade de Ocna Sibiului. É a cidade dos lagos e da bela capela ortodoxa que tivemos oportunidade de visitar também e onde fomos calorosamente recebidos pelo edil local.


É cativante o contacto com a gama extraordinária de figuras que encontramos naqueles templos ortodoxos. Algumas podem confundir-se com figuras de catálogos de “barba e cabelo". Santa Criatividade!
Finalmente o almoço (?!?!) e as actividades de encerramento do Encontro, com a distribuição dos respectivos certificados e dos discursos finais. A nossa Susana parece ter ficado feliz…e tem todas as razões para isso. Só podemos considerar este encontro em Sibiu como um momento importante de cada uma das nossas vidas. Os proveitos virão, com o tempo, saibamos nós ajudá-lo a seguir sempre o melhor rumo!


Nem todos os participantes parecem felizes. Ou escondem alguma coisa (o que não parece ser o caso) ou deixaram-se afectar pela morosidade e redundância de cada uma das cerimónias.



Felizmente a piscina estava gelada e não houve condições para exercitar também o corpo. Ficaram as promessas do retorno em época adequada. Passámos, por isso, do frio intenso do clima …
…ao clima afectuoso da despedida. Nos traços de alguns dos alunos que nos acompanharam, hospedeiros e hospedados, exibiam já o sorriso tenso que anuncia a partida.


Também o Blogue encontra aqui o seu termo. O dia seguinte, 17 de Fevereiro de 2010, é o dia do regresso. De todos nós. As famílias aguardam-nos com a ansiedade de quem espera no ninho os que, voando pelos céus gelados da Europa, anseiam pelo calor do lar e pelo conforto dos seus. Conforto que o escriba, sonolento mas afastando o persistente Narciso, tentou encontrar no “escritório da delegação portuguesa”, figurado em baixo.


Tentou e encontrou nos sofás de napa e na companhia de verdadeiras amizades que se criaram, se sedimentaram e desenvolveram neste cantinho do mundo, pelo e para o mundo, em todos os tempos e na memória. Mais do que um bar, este lugar é um santuário.
Encerra-se aqui este singelo relato que quis dar corpo aos momentos (definitivamente muito pedagógicos) da deslocação da delegação do Agrupamento de Escolas Fernão do Pó - Bombarral, no âmbito do projecto Europeu Comenius. A todos os que tiveram a paciência de nos visitar e connosco partilharam esta bela experiência queremos agradecer com a máxima simplicidade e afecto: MUITO OBRIGADO!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Segunda...

Dia de trabalho. Fria e alva metáfora do renascimento primaveril anunciado. Alvorada. Soldados ou missionários de uma missão nem sempre clara e rigorosa, marchamos na margem da neblina, bordada em ponto cruz, suspensa das ramagens despidas das árvores hirtas e hibernantes. Da respiração suspensa há-de brotar o novo e florido fulgor de Março e Abril. Por agora adivinhamos um futuro próximo, pleno, enquanto meditamos nas tarefas para hoje.

A manhã é de trabalho. Apesar do bucolismo do caminho que percorremos a pé até à escola, a nossa concentração é crucial. Parece que passamos pela beleza como 'cão por vinha vindimada'. “Parece”! Quando passamos, descuidados, ela apela, explode e insinua-se. Abrandamos e derramamos o nosso olhar matinal sobre o manto branco, como se, por sagrado respeito, entoássemos a oração suprema da natureza. Ficar e seguir: A tensão essencial da existência.


Trabalho é trabalho e nós cumprimos. Ficou claro ao que vínhamos e o que queremos fazer quando, em Maio, recebermos os nossos amigos no Bombarral. Muitos lamentaram não poder fazer a viagem a Portugal, outros prometeram ser felizes nos dias que os levarem ao nosso país. Assim consigamos nós realizar os nossos projectos. Seria bom para todos.


Tecnologia é, por aqui, algo que ainda atrapalha um pouco. Mas cremos que será diferente em breve. Na Roménia é muita a esperança no futuro… apesar das crises. Entretanto passamos as «receitas» no quadro preto, bem usado, à boa maneira da nossa distante infância.


Receita passada (Trata-se das tarefas para o encontro de Istambul), sessão encerrada. A manhã foi longa e o ratito já surfa nas paredes do estômago. O manto branco permanecia agora em total quietude, a neve interrompeu, por momentos, o seu devaneio pelos céus cinzentos e, não muito longe, esperavam o grupo no nomeado “Restaurante Oficial” da delegação portuguesa: o Union, em plena Piata Mica. Simpático, com bom serviço e qualidade gastronómica muito boa.


O resto da tarde foi de deambulação pelo centro da cidade de Sibiu. Só por isso pudemos captar a maravilhosa luz do entardecer, aprisionada na brancura dos telhados da Piata Mare.

Quando a noite se instalou definitivamente, reunimos o grande grupo. Um jantar de autêntico intercâmbio. Pela primeira vez foi possível o intercâmbio à portuguesa, isto é, festa, comida e troca de informação. Chamemos-lhe um 'convívio de trabalho'. A informação circula melhor quando o ambiente é leve e descontraído e o essencial que fica retido nos 'momentos sérios' de tensão formal, brota então como manancial de ouro. Foi bom e foi bonito. O prato? Uma agradabilíssima surpresa… apesar do aspecto.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Domingo (II)

A Tarde foi nossa. Há sempre qualquer coisa que falha mesmo nos projectos mais sólidos. E com tempo livre há que explorar o mundo à nossa volta. Em Sibiu, como noutros locais, vingaram as novas referências: É ‘dia dos namorados’ e, como tal, houve festa no 'Registo Civil'. E em tempo de festa não se olha a despesas. A cidade é um baú de surpresas. Tesouro atrás de tesouro surpreende o viajante a cada passo. É uma cidade multicural e multireligiosa. A Biserica Ortodoxa, a Catedral Ortodoxa da “Santa Trindade”, é um destes tesouros. De uma monumentalidade asfixiante, abre-nos as portas para uma nova forma de estar e de sentir a relação com a transcendência. Neste contexto entende-se melhor a divisa do Projecto Comenius: We are so different… but still we are the same.

Dois ou três passos adiante e outra bela surpresa: A Casa das Cariátides. Este «Pequeno Palácio» (nome popularizado devido ao facto de os motivos decorativos serem basicamente os mesmos do Palácio Brukenthal) cujo portal é enquadrado por duas Cariátides, foi construído em 1786. É um exemplo acabado do Gótico Tardio.
Duzentos ou trezentos metros depois, e após várias catedrais de credos diversos e em diversos estados de conservação, sempre imponentes, encontramos a primeira ponte rodoviária em aço de toda a Roménia, construída em 1859 e que se constitui como o orgulho das gentes desta cidade de Sibiu/Hermannstadt. É conhecida como “The Liar’s Bridge”. Por qualquer razão obscura, consta que alguns políticos se passeiam pela ponte em busca de inspiração. Não se sabe se foi visitada por algum político português, mas…

Só podia terminar à mesa. Aqui come-se cedo e come-se bem. Talvez nada haja a dizer da gastronomia local que possa envergonhar quem quer que seja. Mas nem sempre a refeição nutritiva é razão suficiente para o puro contentamento. Mas isso, são “outros quinhentos”...

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Domingo (I)

Sem neve! Fiquei agora a saber que sem neve há mais frio, muito mais frio. Onde o manto era branco ontem, é hoje lama ou gelo. E com gelo é maior o perigo de deslize… e aconteceu a um de nós. Felizmente sem consequências de maior. Foi um domingo de deslizes…mas também de trabalho. Iniciámos com a ameaça de não haver tempo para terminar os trabalhos a tempo. Mesmo assim foi correcta e sólida a intervenção da representante do AEFP, professora Olívia Figueiredo.

Afinal acabámos a tempo de deambular serenamente pelas ruas pouco limpas da cidade. Algum caos, algum stress e muito frio. O programa é também um programa de regime. Três ou quatro caminhadas diárias contribuem para manter a linha dos alinhados e para reduzir obesidades aos mais 'confortáveis'… ahh!, e para amenizar o castigo que o frio nos impõe. Surgem sempre algumas curiosidades (uma boa ideia para Portugal??? Um 'Bloco Central' a Leste???)….


…e chegámos calmamente e em paz a um fabuloso destino:

O Palácio Brukenthal, um dos mais importantes edifícios em estilo barroco de toda a Roménia. Samuel von Brukenthal, mandou construí-lo entre 1778 e 1788. Brukenthal é um dos mais significativos nomes da Aufklärung. Os princípios iluministas levaram-no a dedicar apoio a todas as actividades que pudessem ajudar a espéNegritocie humana a sair da menoridade em que se encontrava, como referia então o filósofo Immanuel Kant. Olhando assim para o mundo, duzentos e muitos anos depois, será que saímos?


O iluminista reuniu no seu palácio um autêntico tesouro de arte diversa, havendo a realçar (diria, a não perder), alguns exemplares imortais da pintura. Encontramos obras de pintores representativos das mais importantes correntes da pintura Europeia como Lucas Cranach, Hans Schwab von Wertinger, Hans von Aachen e Johann Rottenhammer, sem esquecer os geniais Jan van Eyck, Pieter Brughel I e Pieter Brughel II, entre muitos mais famosos. Na impossibilidade imposta pelas regras da casa de obter imagens, ficamos com a imagem, muito redutora, retirada da Internet, de «Homem com um Anel» de Jan van Eyck.


A manhã foi longa e difícil e terminou numa espécie de “sopa dos pobres”.

A noite avançou rapidamente e uma nuvem cada vez mais densa perturba já a mente do escriba. Amanhã é outro dia e será então feito o registo da 'aventura' vespertina de domingo. Por agora, vamos apenas cerrar um pouco as pálpebras… mas manter em memória os registos deste Valentine’s Day por terras da Transilvânia.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Sábado

Cinco e meia da manhã no Bombarral. Na Transilvânia o dia começou mais cedo. Bandos de corvos em fúria percorrem os telhados brancos em frente do nosso posto de observação…no décimo andar do hotel. Há sempre uma razão para iniciar o dia com uma bebida quente. Aconchegante. As razões estão lá fora e claramente à vista. O dia anuncia-se difícil.
O grupo é corajoso. Ataca o dia de peito feito (com cachecol no sítio, não vá o diabo tecê-las; e as mãozinhas enluvadas…só por precaução). Neve aqui não é festa mas no nosso íntimo de temperados mediterrânicos há qualquer coisa de orgiástico ao deixar no alvo solo a pegada firme e perfeita. O local de trabalho é uma escola. Apesar do aspecto de usina soviética em decomposição, garante-se que não se parece com Chernobyl….após o acidente. Mas um sentimento súbito viria despertar o nosso nacionalismo mindinho: Português que se preze nem na Roménia aprecia ver a sua bandeira adulterada. Nunca! Muito menos em ano de Centenário da República.


Feita a reclamação formal, apresentadas as desculpas de circunstância….”Siga a Marinha!!” isto é, ‘vamos à missa!’. No pior lodaçal nasce, por vezes, a flor que encanta. Uma onda de espiritualidade e emoção ortodoxa preencheu este local obscuro com a energia feérica de um verdadeiro sábado humano.

O sábado da esperança com rosto. Como o mais belo rosto da Transilvânia. Um milagre vestido de luz.

E, claro, só pode acabar em festa à portuguesa… com fotografia de grupo…

… e qualquer coisita para comer e beber.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A Viagem (III)

Frios, Cansados e agora assustados, aprendemos as primeiras letras neste incrível linguajar latino e fizémo-nos a uma bela refeição. Vejam a fantasia quase romântica desta ementa: Cartofi Prajiti; salata Proaspata asortata; Straita Romaneasca; Papanasi;.... e esta que vale o destaque….
Dulceata & Smantana….

Depois de tanto frisson…caramba! Nós merecemos!

A Viagem (II)

Com a motivação que a foto documenta, gelados por dentro e por fora, entrámos no tubo que nos levaria além–Cárpatos

Cansaço? Palavras para quê? A imagem é elucidativa…e isto fica longe como o raio!
Chegámos. Um piloto que deve ter estagiado nas composições da Linha do Oeste tinha acabado de “atirar” um avião para a pista… "SUAVEMENTE!!"

...Nós estavamos lá dentro.

A Viagem (I)

Chegou o dia. Cedinho, com a chuva miudinha que abençoa estas coisas partimos ainda de noite rumo à capital. Pela frente uma longa e cansativa jornada. Já bem de dia, por via dos atrasos dos tais alemães que funcionam rigorosamente, levantámos rumo a Munique. A agitação inicial e a falta de prática nestas coisas de viagens de avião deixou alguns de nós com um sorriso relativamente desbotado Mas estoicamente aguentámos e com nervos de aço e muito calor humano deslizámos aliviados no gelo de Munique. Temperatura ambiente: -6 graus. Coisa pouca para assustar os indómitos bombarralenses. Uma pausa aquecida no mundo comercial da Gare bávara e algumas ideias interessantes para, “quem sabe?”, colocar algures junto ao portão de entrada da Escola Secundária. De facto a boa solução não seria essa, mas…
Era preciso continuar…e a placa azul (certo! – AZUL, sempre!) mostra o cosmopolitismo do nosso destino.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A fazer as malas....


Com enorme expectativa, 2 alunos e 3 professores do Agrupamento de Escolas Fernão do Pó (AEFP), do Bombarral, preparam-se para investir contra temores e superstições, pelas terras frias do Vlad Ţepeş, o Drácula das nossas fantasias. Por mim apetece-me sentir na plenitude aquela que o livro de Bran Stoker me teceu no espírito sequioso dos meus já distantes 14 anos. Tanto tempo depois vou finalmente respirar as aragens cortantes dos Cárpatos frios e brancos como as faces alucinadas do conde sanguinário, recordando decerto, nos mais íngremes picos ds seus montes, os marfínicos dentes insersores das gentis gargantas femininas.


Preparamo-nos para conquistar a Transilvânia. Daqui, das húmidas e ventosas terras do Oeste, como bons romanos a caminho da nova Dácia, vamos em paz, sem outros projectos de conquista que não sejam os da amizade, da curiosidade, da troca de experiências, da partilha, do reconhecimento da igualdade numa natureza tão diferente.


Esta incursão decorre no âmbito do projecto de intercâmbio europeu, comummente reconhecido como «Projecto Comenius». Em boa hora!!

Johann Amos Comenius (1592 - 1670) foi uma figura grada do florescer da modernidade. Homem de visão, preocupado com o futuro da humanidade e, por isso mesmo, com a felicidade do homem. Optimista, apesar dos rigores do seu tempo, deixa aberto o espírito que nos guia a todos nos trilhos da educação. Foi este homem bom virado para o futuro que inspirou os impulsionadores daquele «Projecto». Na apresentação da sua obra de referência, Didactica Magna, Comenius derrama definitivamente sobre os tempos futuros a sua visão do percurso para uma melhor convivência entre os homens: «Ensinar tudo a todos»! Parece megalomania, não é? No seu tratado apresenta-nos o «processo seguro e excelente de instituir em todas as comunidades, cidades e aldeias, escolas tais que toda a juventude de um e de outro sexo, sem exceptuar ninguém em parte alguma, possa ser formada nos estudos, educada nos bons costumes e possa ser instruída em tudo o que diz respeito à vida presente e à futura, com economia de tempo e de fadiga, com agrado e com solidez. Onde os fundamentos de todas as coisas que se aconselham são tiradas da própria natureza das coisas. (...) A proa e a popa da nossa Didáctica será investigar e descobrir o método segundo o qual os professores ensinem menos e os estudantes aprendam mais; nas escolas haja menos barulho, menos enfado, menos trabalho inútil e, ao contrário, haja mais recolhimento, mais atractivo e mais sólido progresso». Lidas as suas palavras, sentimos que já fomos muito longe no caminho que então abriu mas estamos tão longe das metas que indicou.

Envoltos nos seus ideais vamos à Transilvânia. A Sibiu, cidade talvez de um mundo que Comenius quereria reformar, mas que abre, como museu vivo, as vias para «aprender muito ensinando pouco.»